Serra da Arada - De Regoufe a Drave

13/06/2016

Pela rota dos Túneis...


Sábado 11 de Junho de 2016

Andávamos há 2 ou 3 anos a pensar em fazer a "Ruta de los Tuneles", um troço da via ferroviária que ligava Salamanca à Linha do Douro em Portugal, mas por esta ou aquela razão ainda não se tinha proporcionado a ocasião.

O troço escolhido para a caminhada liga La Fregeneda, em Espanha, a Barca d'Alva, em Portugal, e tem cerca de 17 quilómetros.

O feriado de sexta-feira (Dia de Portugal) veio permitir a realização desta actividade.

De Aveiro, pelo início da tarde, partiram o Cardoso, o Francisco, o Tiago, a Sara e o Amaral. O grupo ficou completo já na Pousada da Juventude em Foz Côa onde nos juntámos à Sílvia, à Carla e ao Pina Jorge.

Depois de tratarmos do alojamento fomos a pé até ao centro de Foz Côa onde metemos a conversa em dia na companhia de umas cervejitas no Café Baltazar.

Para nossa surpresa o Zé Figueiredo que, apesar de não vir realizar a actividade, resolveu passar o fim de semana na zona.

Por sugestão de um casal que se encontrava no café fomos jantar ao Restaurante Abade em Junqueira. Em boa hora aceitámos a sugestão porque a posta mirandesa estava magnífica e o preço foi bastante simpático.

De volta à Pousada aproveitámos para desenferrujar as habilidades no snooker antes de deitar.

Pelas 7,30 h de sábado, foi tomado o pequeno-almoço e lá partimos para Barca d’Alva onde deixámos um dos carros junto ao cais, onde se encontravam diversos barcos-hotel ancorados. Daqueles que fazem a descida e subida do Rio Douro para fins turísticos.

Os outros 2 carros serviram para nos deslocarmos para Espanha. Encontrar a estação de La Fregeneda não foi fácil, apesar de termos as coordenadas no GPS. A ajuda de um habitante local foi fundamental, pois não existe nenhuma indicação na estrada.

Chegados a La Fregeneda iniciámos então o percurso pela via férrea em direcção a Portugal.

Apareceu o túnel 1, o mais comprido dos 20 existentes neste troço, onde a utilização das lanternas ou frontais é indispensável. Pode-se caminhar pelas travessas entre os carris conforme sugerem a maior parte das descrições que vimos na net mas é bastante mais confortável utilizar o patamar lateral em pedra e cimento, desde que se vá com cuidado para evitar alguns buracos no piso.

Logo a seguir surge um pequeno pontão com passadeiras transitáveis.

O percurso continua e surge o túnel 2, este curto e sem oferecer grande dificuldade.

O túnel 3, comprido e escuro por ser em curva, encontra-se habitado por morcegos. Bem cedo se ouviu o chiar dos ditos, eventualmente incomodados com a luz dos frontais.

Mais um pouco de caminho e eis que surge a primeira ponte, a Ponte do Morgado. Pode-se utilizar a passadeira de madeira situada no seu lado direito, no entanto, todos resolvemos testar a nossa reacção às alturas passando sobre a viga exposta.  A altura da ponte, a viga estreita e o facto do corrimão ser um pouco afastado da passagem, obrigando a uma leve inclinação do corpo no sentido do abismo, tornou a passagem algo desconfortável. O facto do próprio corrimão apenas servir para equilibrar e não para segurança também não ajudou.

Todos passaram no teste mas uns mais confortáveis do que outros.

No fundo do vale, à nossa esquerda, corria o Rio Águeda, que delimita a fronteira com Portugal. A paisagem é deslumbrante.

O túnel 4 desemboca directamente na Ponte de Pollo Rubio, talvez o local mais fotogénico de todo o percurso. A conjugação da ponte com o túnel, aberto por baixo de um pico da montanha, cria uma imagem de grande efeito.

Mais calafrios na passagem sobre a viga metálica, uma vez que o passadiço em madeira está em franco mau estado.

Surgem depois os túneis 5 e 6 continuando a linha a acompanhar o Rio Águeda que corre lá bem abaixo com cenários realmente espectaculares.

Surge agora novo e grande desafio, a Ponte de Pollo Valente. Uma imponente estrutura metálica em curva, em muito mau estado de conservação. No ponto da curva a viga metálica termina, apresentando um espaço vazio, antes de iniciar nova viga. Os travessões de madeira situados entre os carris encontram-se queimados, não oferecendo alternativa ao salto a efectuar para continuar a travessia da ponte. A passagem pelo lado de fora da curva implica um salto bem maior e bem mais sugestivo.

Houve quem escolhesse essa opção para viver momentos de maior intensidade emocional. Saltar no vazio, com cerca de um metro de distância entre as duas vigas, a várias dezenas de metros de altura, é realmente desaconselhável a quem sofrer de vertigens.

No túnel 7 aproveitámos a sombra para parar um pouco, comer e refrescar que o calor começava a apertar. 

Pelo caminho fomos atravessando mais uns túneis, do 8 ao 11, e encontrando outros montanhistas que faziam a mesma rota  em sentido contrário.

Após o túnel 12 eis que surge a Ponte Arroyo del Lugar, muito comprida, muito alta e bastante desafiante. Aconselha-se a passar pela viga do lado esquerdo, pois a da direita tem alguns troços de madeira queimada que podem constituir problema na passagem.

Quem passou as outras também passa esta! Mas é mais fácil dizer que fazer!

A malvada cabeça a trabalhar a 100 à hora, o medo a tolher-nos os movimentos e as pernas a tremer, fazendo-nos hesitar na altura de dar cada passada. Após imensa luta interior, lá cheguei ao fim com um suspiro de alívio.

Mais uns túneis, onde aproveitávamos para nos refrescar, pois a temperatura agora era superior a 30º C.

Após o túnel 15 surge a Ponte de los Pollos. A passadeira de madeira do lado direito estava em bom estado, parecendo ter sido recuperada. Resolvi passar sobre ela. A maior parte dos colegas de aventura optou contudo pelo lado mais emocionante.

A via férrea desenvolvia-se então por um troço estreito cavado na montanha, repleto de cactos e outra vegetação. Aqui perdemos o rio de vista.

A Ponte de las Almas, também com o passadiço recuperado antecede a passagem pelo túnel 19. Finalmente o túnel 20 e a ponte internacional sobre o Rio Águeda. Neste ponto o rio desagua no Rio Douro.

Os pés doridos de tanto pisar balastro e o corpo desidratado clamavam por uns minutos de descanso e por uma cervejita bem fresca. Saciámo-nos no pátio exterior duma mercearia situada após a antiga estação de Barca d'Alva.

De referir que a estação de Barca d’Alva, donde há 3 anos atrás parti com o Calé para fazermos o troço até ao Pocinho, está agora bastante mais degradada com sinais evidentes de vandalismo, o que é de lamentar.

Recomposto o grupo fomos recuperar os carros deixados em Valdenoguera, assim se chama o local onde fica a estação de La Fregeneda.

No regresso dei boleia a um casalinho de escuteiros que estava a fazer o trajecto de retorno até Barca d’Alva a pé. A jovem ergueu os braços ao céu quando parei, tal a alegria de poupar mais 4 horas de caminho a pé sob intenso calor e ao Sol. 

O final foi uma tasquinha em Celorico Gare, conhecida pelo Amaral (quem mais?), onde umas cervejitas e umas sandes de presunto e queijo deram o ânimo para iniciar a viagem de retorno.

Devemo-nos congratular pelo facto da actividade ter decorrido sem problemas e agradecer a todos por mais uma bela tarde de convívio e camaradagem.


Francisco Soares


2 comentários:

Eu vi uma foto que diz: O ultimo paga a cerveja.

Eu essa não vi. Só vi uma que dizia 'O último paga'